Projeto recria modelo carga seca aberta
Consórcio de dez extrusoras de alumínio desenvolve sistema 100% alumínio, ainda mais resistente, leve, sem soldas e de fácil montagem
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Produto da Cremasco com grades laterais de alumínio; Na imagem, a frase é uma montagem que traduz expectativa do setor |
Não apenas a guarda lateral é em alumínio. Nessa carroceria carga seca aberta, também o chassi, a estrutura, o malhal, o assoalho e todos os componentes são em alumínio. O modelo não está à venda no mercado – a perspectiva é que comece a chegar às linhas de produção em 2013. O Projeto Abal Carga Seca está em desenvolvimento e é fruto de uma iniciativa inédita que reúne dez extrusoras de alumínio em torno de um objetivo comum: criar um sistema ideal dessa carroceria.
“Vamos lançar mão da versatilidade do extrudado para criar um projeto inovador, otimizando o uso de perfis, reduzindo ainda mais o peso e testando o produto para todos os desafios de resistência”, diz o engenheiro Marcelo Gonçalves, coordenador do projeto na Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Novo Sistema
A carroceria está sendo projetada para o truck com três eixos, com cerca de 17 toneladas de carga útil, o modelo mais vendido no mercado. A criação desse sistema e a possível montagem de um protótipo representam a quarta parte de um projeto da Abal, que traz argumentos para a adesão à carroceria carga seca aberta em alumínio. Nas etapas anteriores, a entidade demonstrou que a carroceria de alumínio, submetida às mesmas condições de utilização que as concorrentes, consegue gerar lucro, depois de oito anos, 280% maior do que a carroceria de madeira (R$ 47,8 mil versus R$ 12,5 mil) e 161% maior do que o modelo em aço.
Demonstrou, também, que apesar de o investimento inicial ser superior ao da madeira (39%) e ao do aço (14% maior), o tempo de retorno sobre o investimento é bem menor – 26 meses do alumínio, contra 69 da madeira e 58 do aço. Mesmo com as informações à disposição, o modelo carga seca aberta em alumínio tem ainda poucos fabricantes nacionais, entre eles, a Cremasco. O projeto, que conta com apenas as guardas laterais em alumínio, está à venda há dois anos. “Nesse período, nós adquirimos confiança no produto e fomos desmistificando as impressões erradas que as transportadoras tinham”, explica o proprietário Celestino Cremasco Filho.
Entre os mitos, o de que a carroceria em alumínio “é mais fraca”: “Não é verdade, eu garanto. Tanto que, se não resistir, eu mesmo substituo para o comprador. De todas que eu vendi, eu nunca substituí nenhuma”, conta o empresário, em cujo portfólio há 18 produtos, dois deles de alumínio.
Cremasco Filho explica que há vantagens em produzir a carroceria em alumínio: “Preciso de menos funcionários, só uma máquina de corte, uma furadeira e uma rebitadeira. O produto já vem anodizado, com furação, dá muito menos trabalho para montar e é muito mais bonito”. Ele pondera que, para desenvolver o produto e manter a linha de produção ativa, é preciso estabelecer uma parceria muito afinada com as empresas fornecedoras de perfis: “No alumínio, eu não produzo sozinho, preciso trabalhar em conjunto com a engenharia das extrusoras”, alerta.
Tornar esse relacionamento mais sólido é um dos objetivos do projeto. “Com esse consórcio, empresas que não tenham por prática dar esse suporte ao cliente estarão capacitadas, com o novo modelo em mãos”, diz Gonçalves. Um projeto estrutural e executivo será desenvolvido e ficará à disposição de todas as empresas envolvidas, para que possam customizar a proposta e acrescentar seus diferenciais.
Produzir a carroceria em alumínio demanda muito menos trabalho, uma vez que precisa de menos funcionários e o produto já vem anodizado e com furação
Expectativas
Tanto para o setor de implementos rodoviários como para as empresas transportadoras de cargas, a redução de peso das carrocerias ocupa papel central nas discussões e esforços – o que ganhou mais força depois da Lei da Balança e, agora, terá novo impulso com o Inovar-Auto. Lauro Valdívia, assessor técnico da NTC&Logística, entidade que reúne cerca de quatro mil transportadoras, analisa: “Reduzir peso é uma busca constante. Quanto menor a tara, maior a capacidade de carga útil, mais faturamento e mais vantagem competitiva para a empresa. Por isso, se faz investimento em insumos mais leves e o alumínio é um deles”.
O consórcio, portanto, gera boas expectativas: “A iniciativa é bem-vista, precisamos mesmo aumentar a capacidade do caminhão e a durabilidade. Mas é importante que o preço seja também acessível”, pondera Valdívia.
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Carga seca aberta Alumínio X ConcorrentesApós oito anos de uso: Lucro do alumínio Retorno sobre investimento Fonte: Abal |
Segundo explica o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), Alcides Braga, o setor percebe que as transportadoras ainda não fazem a conta do custo-benefício, aspecto que, segundo diz, deve ser mais valorizado. “Sentimos que há um imediatismo muito grande na compra, o cliente não é muito sensível ao ganho a médio prazo, quer saber de economizar no ato da compra, apenas”, diz. Ele exemplifica com dados da empresa que dirige, a Truckvan, que trabalha com baús de alumínio. “Explicamos toda a questão do custo-benefício do alumínio, dizendo que é mais nobre, tem maior durabilidade, é uma solução melhor já desde o processo construtivo e gera mais ganhos. Dez por cento dos clientes para quem fazemos toda essa cartilha aderem ao alumínio”, conta.
Braga acredita que convencer fabricantes de implementos a produzir carrocerias modelo carga seca aberta em alumínio exige que o projeto seja de simples montagem e manutenção. “O ideal é que o produto facilite a vida da fábrica, funcionando como em um lego: simples de montar, com menos mão de obra e que exija menos orientação para construir. Isso pode convencer o cliente a mudar de paradigma”, argumenta o presidente da Anfir. Segundo a Abal adianta, o projeto não terá soldas e tem como premissa a fácil montagem.
Rudimar Pagliarin, diretor comercial da Rodolinea, marca de implementos do Grupo Hübner, acrescenta que, em um projeto como esse, espera-se que o sistema seja modular, com perfis laterais parafusados – e não totalmente soldados: “Se alguma peça é danificada, você troca os perfis específicos e já sai rodando. Quando o projeto é assim, a manutenção é muito simples”, ele explica.
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Modelo semirreboque basculante com caixa de carga de alumínio da Rodolinea tem tara 16% menor em relação à versão em aço |
A empresa tem experiência com o metal, já que, no início de 2012, começou a comercializar o semirreboque basculante com caixa de carga 100% alumínio, que tem duas toneladas a menos de tara (ou 16%) em relação ao modelo em aço. O produto é um sistema patenteado, fruto da parceria com a italiana Menci, que fornece os perfis e o projeto original, que foi adaptado para a realidade brasileira.
Para Braga, da Anfir, os consumidores de implementos ainda estão aprendendo a comprar observando o custo-benefício que o alumínio traz, a médio prazo
“Já adquirimos experiência com o produto e, na nossa nova fábrica, teremos uma planta específica para alumínio. Já no fim de 2013, pretendemos o uso no semirreboque carga seca e graneleiro, em partes estratégicas. Sabemos que ele traz retorno certo para o cliente.”
Cremasco Filho também acredita que o alumínio ganhará espaço nos próximos anos: “Não há dúvidas que o mercado vai preferir alumínio. Aqui na Cremasco mesmo, em cinco anos, a produção deve chegar a 50% em alumínio”, estima. Para Gonçalves, coordenador do projeto, o consórcio trará mais argumentos para a mudança: “O projeto apresentará ainda mais vantagens do produto, fundamentadas em pesquisas, trazendo uma contribuição técnica para o mercado”.
Entrevista completa da Revista Alumínio:
Fonte: http://www.revistaaluminio.com.br/recicla-inovacao/33/projeto-recria-modelo-carga-seca-aberta-consorcio-de-dez-275719-1.asp
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